quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A saga dos Correios - Parte 2

Parte 2.


No dia seguinte foi a mesma coisa, passei o dia todo fora e nada de achar a porcaria do endereço do correio.
Isso que eu tenho GPS, Google maps e tudo mais disponível no celular e mesmo assim, foi impossível achar a localização.

Eis que chegou a data limite do pacote nos correios e eu tinha que achar a todo custoo lugar para buscar meu pacote, pois estava com medo que devolvessem a minha encomenda. Falei para o Rudi que não achava o lugar e ele achou uma outra localização pra mim e essa parecia mais condizente do que as anteriores. Então decidi, já sei pra onde vou.

Tudo foi uma aventura, desde pegar trem pra sair da cidade até voltar pra casa. Pegar trem foi complicado, eu não sabia comprar o bilhete na máquina automática, fui tentar comprar na bilheteria e a mulher brigou comigo, mas foi me ensinar a comprar, pra eu não voltar mais la na bilheteria pra comprar passagens de baixo valor, só aceitam pagamento para viagens de longa distância. Depois a estação que eu desci a maioria das pessoas faz baldeação, e aí fui no embalo das pessoas e fiz tbm, afinal, olhei pra um lado, olhei pro outro, não vi nada, então entrei em outro trem e fui embora dali. Quando cheguei na próxima estação, era o destino final e fui obrigada a descer e vi que tinha q ter ficado na estação anterior mesmo. Peguei o trem de volta, parei na estação certa. Ou achava que era certa.

De novo, olhei pra um lado, olhei para o outro. Por onde desce? Como eu saio da plataforma? Não vi nenhuma escada para passar por baixo dos trilhos. Andei mais um pouco pra lá, não tinha nada. Quando andei um pro outro lado vi um menino correndo, atravessando nos trilhos e veio em minha direção e pensei "que menino maluco, atravessando sobre os trilhos, que perigo". Comecei a andar na direção dele e ele logo tomou o trem que havia acabado de chegar. Ele foi embora e cheguei perto de onde ele tinha atravessado. Para a minha surpresa, era assim mesmo que tinha q atravessar para sair da plataforma. Passei correndo pelos trilhos, na frente do trem, o maquinista me olhando. Vi que tinha um jeito de sair dali porque o carro que havia deixado o menino estava passando bem ao lado dos trilhos, então, deve ter uma rua ali, ou pelo menos um caminho. E assim fui andando, procurando o nome da rua.

Já acionei o GPS, to bem pertinho da rua, mais algumas quadras e eu acho o lugar e pronto.
Andei, andei, andei até pelas ruas paralelas, pelas transversais, por todas as ruas daquele bairro, deu pra entender? todas as 10 ruas? todas as 10 quadras? E nada de achar o correio? Melhor voltar pra casa. Tinha um trem saindo dali 20min que ia pra Villingen, vou pegar esse. Parada, no meio do nada. No meio de muito frio. A única diversão foi ver uma maria fumaça passando e as crianças botavam a cabeça para fora, me acenando e falando "Hallo!". Acenei em retribuição, sorri e foi só. Foram 5 segundos de alegria e esquecimento do frio. Depois disso, só frio, muito frio, mau humor e algo entalado na garganta.

Pela primeira vez eu desejei ir embora da Alemanha. Pela primeira vez eu senti raiva daqui.

Eu estava com o choro entalado na garganta, mas não conseguia chorar, porque sentia muita raiva. Raiva da Alemanha, por ser tão difícil resolver as coisas; arrependimento, por ter comprado a maquina que foi taxada e por isso foi parar em algum lugar que até hoje não achei. Mas não dava. O que imperava era o frio.

Vocês podem achar um exagero eu falar de tanto frio, mas eu nunca passei tanto frio na minha vida. Você consegue pensar em tudo que vc faz ou fez de errado na sua vida pra pensar que merece ou não passar por isso. Vc faz um balanço de tudo e quer tentar resolver tudo ali, na hora, quer se redimir para sair dessa. Mas não tem jeito. O frio é uma desgraça.

Dessa vez eu levei um par me meias extras, para o caso do pé ficar molhado. Mas o problema maior era a bota, estava encharcada. Eu troquei as meias na estação de trem, não era nem meio dia ainda. E calcei as botas molhadas, que só faltavam fazer aquele barulho de água, mas não faziam, porque virou gelo. O gelo grudava em volta da bota.

Tentei aquecer um pouco a ponta dos pés quando tirei o calçado, ajudou pouco, mas ajudou. Em meia hora a meia estava tão molhada quanto a anterior e eu desejei ter mais meias secas e um calçado seco também. Mas isso ficou só no desejo mesmo, porque eu ainda tinha um dia inteiro pela frente e o trem estava programado para passar 12h20.

Mas com a neve pra todos os lados, fazendo camadas de 60cm de altura de neve sobre os trilhos, vi alguns tratores limpando os trilhos por ali perto e imaginei se isso não causaria um pequeno atraso. Talvez 15min, 20min, que foi o tempo que eles ficaram ali? Não, foi mais, muito mais.O trem das 12h20 não passou. O trem das 13h10 não passou.

Foi passar o trem das 14h45. Claro que antes disso passaram outros trens, nos seus devidos horários ou com no máximo 10min de atraso. Mas o trem que ia pra Villingen, não passava.

Cheguei a atrapalhar um trem que ia pra Rotweill, perguntando pro maquinista se ia pra Villingen, sendo que eu já tinha visto no papel afixado na plataforma que não ia, mas perguntei mesmo assim, pois ele fazia sinal para eu entrar no trem, ficou só me esperando pra poder partir. Quando ele ouviu Villingen, ficou muito bravo, simplesmente falou q não, bateu a janelinha tipo vitrô, voltou pra direção e partiu com o trem. Eu me senti mal por tê-lo feito esperar mais uns 1 ou 2 minutos ali na estação.

Pode parecer pouco, mas pra manter o horários certos de passar em cada estação, isso significa muito. Pedi desculpas mentalmente, sentindo arrependimento e pensando em como não fazer isso de novo, em como não chamar atenção sem querer do maquinista.

Eu já tinha visto aquele mesmo maquinista pela segunda vez no dia quando ele veio me chamar. Até estava tentando fazer as contas se valeria a pena ir até Rotweill, sentido totalmente oposto e mais longe para comprar outro bilhete e de lá seguir pra Villingen, numa tentativa de ficar numa estação mais quente e com um pouco mais de infra-estrutura. Mas achei melhor não ir, não queria gastar dinheiro, não queria desperdiçar mais o meu tempo.

Chegando em Villingen, fui ao correio da cidade, tentar ver o que eu poderia fazer para pegar o meu pacote, ou pelo menos saber o valor da taxa, qualquer informação. Falei com o atendente que eu sabia que falava inglês, pois foi o mesmo que me atendeu quando fui enviar cartões de Natal para o Brasil. Ele telefonou lá para a agência onde estava o meu pacote, mas não conseguiu muita coisa. Mas providenciei o que precisava e ele tentou me explicar onde ficava o lugar. Disse para voltar a Deisslingen.

Eram 13h, nem voltei pra casa, a vontade era grande de trocar o calçado e as meias, mas não queria perder tempo. Fiquei por lá mesmo, na estação de trem, comi um sanduíche, que não era muito bom, mas também não era ruim. Pão integral, queijo, salami e pimentão. O pimentão não combinava, mas na altura do campeonato, valia qualquer coisa.

Comprei minha passagem de trem, o próximo trem era para às 15h. Se eu voltasse para casa, seria muito corrido, não ficaria mais que 10min e já teria que sair. Tentei me aquecer na lanchonete, mas meus pés estavam muito molhados e gelados. Depois que saí do lugar, para ver como estava o placar, se o trem estava no tempo certo ou se tinha algum atraso e quando voltei, não tinha mais lugar para ficar. Quando faltava 15min para o horário do trem, fui para a plataforma.

Lá era frio, porque é aberto. Começou a nevar e ficar um pouco mais frio. A neve logo parou. E nada do trem chegar.

Quando deu 16h comecei a fica apreensiva. Ele estava muito atrasado. Eu já tinha comprado a passagem. A passagem foi pro lixo. eu não sabia se dava pra pedir o reembolso ou não, mas já estava tão decepcionada, com tudo, comigo, com o atraso do trem, com a complicação em chegar ao correio, em pagar a taxa que eu não sabia quanto era, tudo ao mesmo tempo.

O trem demora pelo menos 30min para chegar à cidade, de Villingen a Deisslingen, mais as paradas. Eu demoraria pelo menos uns 30min para percorrer 3,5km em Deisslingen, da estação de trem até a nova localição que eu achei na internet. Nessa hora eu não consegui segurar o choro. A tensão foi ao limite e eu chorei, da plataforma de trem, no momento em que desisti de embarcar para Deisslingen, pois sabia que se embarcasse depois das 16h não chegaria a tempo do correio estar aberto, pois ele fechava às 17h.

E chorei o caminho todo à pé para casa. E chorei em casa, decepcionada comigo mesma, por não ter conseguido chegar à porcaria do correio e pegar meu pacote.

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