quinta-feira, 3 de março de 2011

Almoço de Carnaval

É Carnaval!

Fomos almoçar fora, pra ver como as pessoas estavam na rua (geralmente almoçamos em casa). Mas Carnaval é uma época especial aqui, as pessoas se fantasiam e passam o dia assim, seja no trabalho ou à passeio.

O Rudi foi vestido de esqueleto e eu, de mosqueteira.

Hoje almoçamos com o pessoal do trabalho do Rudi na Gasthaus Ott, um dos restaurantes mais tradicionais da cidade.

O Rudi pediu Maultaschen mit Kartoffelsalat.
Maultaschen é especialidade Swabian, que é de Baden-Würtemberg, um tipo de massa com recheio de carne e espinafre. Kartoffelsalat é salada de batata temperada com azeite maionese e vinagre, por isso tem um sabor levemente azedo.



Eu pedi Käsespätzle (macarrão com queijo).


Käsespätzle é macarrão com queijo. O Spätzle é uma massa típica alemã daqui do estado (Baden-Würtemberg). Ele não é comprido como fio de macarrão, é muito mais curto, e tem uma consistência um pouco mais firme que um nhoque, em alguns lugares o formato dele lembram vermes, mas deste restaurante pareciam macarrões normais, só que curtos.
O meu veio servido numa frigideira de ferro e acomanhava umas cebolas bem fritinhas em cima do macarrão.

Essa foto não é do meu prato, mas era bem parecido com esse :)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Deutschkurs

Dia 21 desse mês começaram as minhas aulas de alemão.

As aulas são à noite, 2x por semana

Estou estudando todos os dias em casa pra ver se pego o ritmo da turma, que é muito mais forte do que eu e já fala beeeemm melhor!! Aliás, eles falam mesmo, eu só engano :P

Achei que estaria bem na turma, porque já tive umas aulinhas no Brasil, também já estou há uns meses aqui me virando com o alemão que aprendi no dia-a-dia... Mas que nada :( A turma que eu escolhi é bem à frente do que eu sei, não tive nenhuma aula de gramática e falta muito vocabulário. Eu só sei conjugar verbo regular no presente e olhe lá, quando sei que alguma palavra é verbo heheh A galera já sabe falar no presente, no pretérito, sabe tirar dúvida e conversar com os outros em alemão.

Eu mal falei alguma coisa de tão aterrorizada que fiquei. Sem contar o desespero de olhar pra todo mundo entendendo pelo menos 50% do que a professora falava e eu com aquela cara de assustada. Se eu entendi 10% da aula foi muito, foi porque eu consegui ler postura corporal tbm :P

Nos exercícios durante a aula, eu errei todos e ainda tive que colar do vizinho, porque chegou a minha vez e eu não fazia a mínima ideia do que responder.

E quando eu tive que responder espontaneamente (ela apontava pra cada aluno, fazia uma pergunta - relativamente simples - referente à materia e o aluno tinha que responder na hora, sem ficar consultando) foi o gelo. Olhei para um lado, olhei para o outro, fingi que não era comigo e quando olhei pra professora fiz uma cara de "óh, é comigo?" e coloquei as pontas dos dedos na altura do peito, como se fosse uma surpresa. "Ja, Frau Suga" ela falou, aí não dava pra ter dúvida (eu não tinha, mas fingi que tinha, pra ganhar tempo), porque eu não tinha entendido a pergunta.

Na verdade o que eu tinha entendido da pergunta era o que eu "carregava, levava, usava" numa "soma". A primeira coisa que eu pensei foi CALCULADORA.

Por sorte, alguém soprou pra mim uma resposta qualquer "shorts". E então eu percebi que entendi errado a pergunta e acabei falando certo, graças à alma caridosa que soltou uma palavrinha que me fez sacar tudo hehehe

Mas caramba, como é que eu pude confundir isso?

Como eu já havia falado, eu entendi o verbo certo (tragen), mas a segunda palavra não era "soma" (Summer, em alemão - pronuncia-se zúma), mas sim "verão" (Sommer, em alemão - pronuncia-se zôma). Certamente não entendi direito porque eu nunca tinha visto essa palavra ainda e associei com o que eu já conhecia :(

OBS: o que o verbo tragen pode significar:
1. carregar
2. vestir
3. usar
4. suportar
5. conter
6. produzir
7. mostrar

Ainda tem mais 16 definições, mas essas são as mais comuns de se associar a esta palavra.

Was tragen Sie in Sommer?

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Kartoffelrösti



No Brasil é conhecida como Batata Suíça ou Batata Rosti.

Aqui na Alemanha o prato se chama Kartoffelrösti.

O prato é originário da Suíça, mas como estamos a 80km da fronteira com a Suíça, não é de se espantar que seja comum por aqui.

As fotos não são dos nossos pratos, mas é só pra vocês saberem do que eu estou falando :)

São deliciosas, elas são pré cozidas, raladas grossas e depois fritas na manteiga para dar esse douradinho.

Aqui não tinha recheio como as do Brasil, mas geralmente são acompanhadas de molhos.

Nós experimentamos no Gasthaus Ott e adoramos. Apesar de ter demorado para ficar pronto, valeu a pena a espera.

O prato do Rudi levava o nome da região, Schwartzwald. Era basicamente a batata, ovo frito estrelado e bacon em tiras tostado.

O meu era a batata com molho cremoso e champignon (Rahmsauce mit Pilzen). Achei bem gostoso :)

Ontem eu fiz aqui em casa, eu cozinhei demais a batata e não ficou no ponto certo :(
Mas uma hora eu chego lá e quando voltar pro Brasil, não vou fazer feio pra vcs ;)

Eu ainda preciso aprender a fazer o Rahmsauce...

domingo, 9 de janeiro de 2011

Floricultura

Sempre vejo uma boa variedade de plantas aqui. É bem comum as pessoas terem vasos de flores, de frutos, de árvores em casa. Eu mesma tenho um pé de Ficus, não pela minha vontade, mas porque já estava lá em casa e eu não tenho como me desfazer dessa árvore; mas preferia não tê-lo pois acho uma judiação uma árvore estar dentro de um vaso, dentro de um apartamento de 44 metros quadrados :(

Mas enfim, como eu não tenho sacada, acho complicado ter planta em casa.
Eu não sei como essa árvore está viva ainda, nós viajamos, ela fica sem água por muitos dias, caem muitas folhas, mas ela está viva.

O Rudi diz que ela deve pensar que é verão sempre, porque fica ao lado do aquecedor e da janela, então nunca pega frio e ali sempre bate um solzinho.

Anyway, eu não vou colocar a foto dela aqui, porque o post é sobre as flores que eu vi na Floricultura, só que eu falo demais Aderbal, então sempre sai uma besteira além.


Euphoria lactea


Essa eu não sei o nome, mas achei interessante


Ficus ginseng


Begônia


Essas eu pensei que fossem azaléia, mas pelas folhas, não parecem. Então não sei o que são :(


Begônias


Orquídea Chuva-de-ouro (Oncidium Aloha Iwanaga), é um híbrido obtido de vários cruzamentos. As orquídeas Oncidium são às vezes chamadas "bailarinas" pela graça e leveza de seus movimentos quando tocadas pela brisa.


Physalis alkekengi (também conhecida como Bladder cherry, Chinese lantern, Japanese lantern, Winter cherry; japonês: hōzuki)

Espero que tenham gostado. Eu não tirei mais fotos de flores porque estas estavam expostas numa feirinha que teve aqui no centro e quando o dono da banca percebeu que eu estava tirando foto, ele brincou comigo falando no microfone que pra tirar foto custava 1 euro :P
Eu fiquei sem graça, acenei, sorri e saí andando. E foi quando eu mal sabia falar Entschuldigung (Desculpa) ou Tut mir leid (sinto muito).

sábado, 8 de janeiro de 2011

A Saga dos correios - parte 4

Parte 4.

Hoje o Rudi foi pra Feldberg numa estação de esqui e snowboard, eu até pensei em ir junto, mas desisti.

Dali a 40min que ele saiu de casa pra viajar, eis que o carteiro bateu aqui pra me entrar o pacote.

Ainda bem que eu não saí de casa.
Pacote em mãos, missão cumprida.
Fim da história.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A saga dos Correios - Parte 3

Parte 3.

Cheguei em casa, o Rudi não tinha ido trabalhar, estava de licença médica.
Contei o que aconteceu, ou pelo menos o que consegui falar, pois estava muito nervosa.

Ele telefonou nos correios de Deisslingen e tentou falar com um cara lá, em inglês. Conseguiu descobrir o valor aproximado da taxa e tentou negociar como pagar, como receber o pacote, etc. Pelo menos acho que foi assim, isso eu não lembro direito, porque eu estava aos prantos de nervosismo.

Mas ao final desse dia, recebi por e-mail o valor da conta e ele disse que depois que eu pagasse no banco a taxa, receberia em casa o pacote.

Passado o Reveillon, o Rudi fez o pagamento da taxa e agora só estou esperando algum e-mail de retorno dele, do cara que nos atendeu em inglês e receber o pacote em casa. Pelo menos foi isso que eu entendi.

Se eu tiver que voltar pra Deisslingen, Trossingen, ou o raio que o parta, eu não sei o que vou fazer. Vou virar o Michael Douglas em Um dia de Fúria (Falling Down, 1993).

A saga dos Correios - Parte 2

Parte 2.


No dia seguinte foi a mesma coisa, passei o dia todo fora e nada de achar a porcaria do endereço do correio.
Isso que eu tenho GPS, Google maps e tudo mais disponível no celular e mesmo assim, foi impossível achar a localização.

Eis que chegou a data limite do pacote nos correios e eu tinha que achar a todo custoo lugar para buscar meu pacote, pois estava com medo que devolvessem a minha encomenda. Falei para o Rudi que não achava o lugar e ele achou uma outra localização pra mim e essa parecia mais condizente do que as anteriores. Então decidi, já sei pra onde vou.

Tudo foi uma aventura, desde pegar trem pra sair da cidade até voltar pra casa. Pegar trem foi complicado, eu não sabia comprar o bilhete na máquina automática, fui tentar comprar na bilheteria e a mulher brigou comigo, mas foi me ensinar a comprar, pra eu não voltar mais la na bilheteria pra comprar passagens de baixo valor, só aceitam pagamento para viagens de longa distância. Depois a estação que eu desci a maioria das pessoas faz baldeação, e aí fui no embalo das pessoas e fiz tbm, afinal, olhei pra um lado, olhei pro outro, não vi nada, então entrei em outro trem e fui embora dali. Quando cheguei na próxima estação, era o destino final e fui obrigada a descer e vi que tinha q ter ficado na estação anterior mesmo. Peguei o trem de volta, parei na estação certa. Ou achava que era certa.

De novo, olhei pra um lado, olhei para o outro. Por onde desce? Como eu saio da plataforma? Não vi nenhuma escada para passar por baixo dos trilhos. Andei mais um pouco pra lá, não tinha nada. Quando andei um pro outro lado vi um menino correndo, atravessando nos trilhos e veio em minha direção e pensei "que menino maluco, atravessando sobre os trilhos, que perigo". Comecei a andar na direção dele e ele logo tomou o trem que havia acabado de chegar. Ele foi embora e cheguei perto de onde ele tinha atravessado. Para a minha surpresa, era assim mesmo que tinha q atravessar para sair da plataforma. Passei correndo pelos trilhos, na frente do trem, o maquinista me olhando. Vi que tinha um jeito de sair dali porque o carro que havia deixado o menino estava passando bem ao lado dos trilhos, então, deve ter uma rua ali, ou pelo menos um caminho. E assim fui andando, procurando o nome da rua.

Já acionei o GPS, to bem pertinho da rua, mais algumas quadras e eu acho o lugar e pronto.
Andei, andei, andei até pelas ruas paralelas, pelas transversais, por todas as ruas daquele bairro, deu pra entender? todas as 10 ruas? todas as 10 quadras? E nada de achar o correio? Melhor voltar pra casa. Tinha um trem saindo dali 20min que ia pra Villingen, vou pegar esse. Parada, no meio do nada. No meio de muito frio. A única diversão foi ver uma maria fumaça passando e as crianças botavam a cabeça para fora, me acenando e falando "Hallo!". Acenei em retribuição, sorri e foi só. Foram 5 segundos de alegria e esquecimento do frio. Depois disso, só frio, muito frio, mau humor e algo entalado na garganta.

Pela primeira vez eu desejei ir embora da Alemanha. Pela primeira vez eu senti raiva daqui.

Eu estava com o choro entalado na garganta, mas não conseguia chorar, porque sentia muita raiva. Raiva da Alemanha, por ser tão difícil resolver as coisas; arrependimento, por ter comprado a maquina que foi taxada e por isso foi parar em algum lugar que até hoje não achei. Mas não dava. O que imperava era o frio.

Vocês podem achar um exagero eu falar de tanto frio, mas eu nunca passei tanto frio na minha vida. Você consegue pensar em tudo que vc faz ou fez de errado na sua vida pra pensar que merece ou não passar por isso. Vc faz um balanço de tudo e quer tentar resolver tudo ali, na hora, quer se redimir para sair dessa. Mas não tem jeito. O frio é uma desgraça.

Dessa vez eu levei um par me meias extras, para o caso do pé ficar molhado. Mas o problema maior era a bota, estava encharcada. Eu troquei as meias na estação de trem, não era nem meio dia ainda. E calcei as botas molhadas, que só faltavam fazer aquele barulho de água, mas não faziam, porque virou gelo. O gelo grudava em volta da bota.

Tentei aquecer um pouco a ponta dos pés quando tirei o calçado, ajudou pouco, mas ajudou. Em meia hora a meia estava tão molhada quanto a anterior e eu desejei ter mais meias secas e um calçado seco também. Mas isso ficou só no desejo mesmo, porque eu ainda tinha um dia inteiro pela frente e o trem estava programado para passar 12h20.

Mas com a neve pra todos os lados, fazendo camadas de 60cm de altura de neve sobre os trilhos, vi alguns tratores limpando os trilhos por ali perto e imaginei se isso não causaria um pequeno atraso. Talvez 15min, 20min, que foi o tempo que eles ficaram ali? Não, foi mais, muito mais.O trem das 12h20 não passou. O trem das 13h10 não passou.

Foi passar o trem das 14h45. Claro que antes disso passaram outros trens, nos seus devidos horários ou com no máximo 10min de atraso. Mas o trem que ia pra Villingen, não passava.

Cheguei a atrapalhar um trem que ia pra Rotweill, perguntando pro maquinista se ia pra Villingen, sendo que eu já tinha visto no papel afixado na plataforma que não ia, mas perguntei mesmo assim, pois ele fazia sinal para eu entrar no trem, ficou só me esperando pra poder partir. Quando ele ouviu Villingen, ficou muito bravo, simplesmente falou q não, bateu a janelinha tipo vitrô, voltou pra direção e partiu com o trem. Eu me senti mal por tê-lo feito esperar mais uns 1 ou 2 minutos ali na estação.

Pode parecer pouco, mas pra manter o horários certos de passar em cada estação, isso significa muito. Pedi desculpas mentalmente, sentindo arrependimento e pensando em como não fazer isso de novo, em como não chamar atenção sem querer do maquinista.

Eu já tinha visto aquele mesmo maquinista pela segunda vez no dia quando ele veio me chamar. Até estava tentando fazer as contas se valeria a pena ir até Rotweill, sentido totalmente oposto e mais longe para comprar outro bilhete e de lá seguir pra Villingen, numa tentativa de ficar numa estação mais quente e com um pouco mais de infra-estrutura. Mas achei melhor não ir, não queria gastar dinheiro, não queria desperdiçar mais o meu tempo.

Chegando em Villingen, fui ao correio da cidade, tentar ver o que eu poderia fazer para pegar o meu pacote, ou pelo menos saber o valor da taxa, qualquer informação. Falei com o atendente que eu sabia que falava inglês, pois foi o mesmo que me atendeu quando fui enviar cartões de Natal para o Brasil. Ele telefonou lá para a agência onde estava o meu pacote, mas não conseguiu muita coisa. Mas providenciei o que precisava e ele tentou me explicar onde ficava o lugar. Disse para voltar a Deisslingen.

Eram 13h, nem voltei pra casa, a vontade era grande de trocar o calçado e as meias, mas não queria perder tempo. Fiquei por lá mesmo, na estação de trem, comi um sanduíche, que não era muito bom, mas também não era ruim. Pão integral, queijo, salami e pimentão. O pimentão não combinava, mas na altura do campeonato, valia qualquer coisa.

Comprei minha passagem de trem, o próximo trem era para às 15h. Se eu voltasse para casa, seria muito corrido, não ficaria mais que 10min e já teria que sair. Tentei me aquecer na lanchonete, mas meus pés estavam muito molhados e gelados. Depois que saí do lugar, para ver como estava o placar, se o trem estava no tempo certo ou se tinha algum atraso e quando voltei, não tinha mais lugar para ficar. Quando faltava 15min para o horário do trem, fui para a plataforma.

Lá era frio, porque é aberto. Começou a nevar e ficar um pouco mais frio. A neve logo parou. E nada do trem chegar.

Quando deu 16h comecei a fica apreensiva. Ele estava muito atrasado. Eu já tinha comprado a passagem. A passagem foi pro lixo. eu não sabia se dava pra pedir o reembolso ou não, mas já estava tão decepcionada, com tudo, comigo, com o atraso do trem, com a complicação em chegar ao correio, em pagar a taxa que eu não sabia quanto era, tudo ao mesmo tempo.

O trem demora pelo menos 30min para chegar à cidade, de Villingen a Deisslingen, mais as paradas. Eu demoraria pelo menos uns 30min para percorrer 3,5km em Deisslingen, da estação de trem até a nova localição que eu achei na internet. Nessa hora eu não consegui segurar o choro. A tensão foi ao limite e eu chorei, da plataforma de trem, no momento em que desisti de embarcar para Deisslingen, pois sabia que se embarcasse depois das 16h não chegaria a tempo do correio estar aberto, pois ele fechava às 17h.

E chorei o caminho todo à pé para casa. E chorei em casa, decepcionada comigo mesma, por não ter conseguido chegar à porcaria do correio e pegar meu pacote.

A saga dos Correios - Parte 1

Parte 1.

Bem, eu comprei a Sizzix (maquininha para fazer insumos de scrapbooking e costura) em 18 de novembro e o negócio não chegou até hj, tá complicado. Primeiro que demoraram pra enviar, pq o produto ficou em falta (entrou na promoção e o negócio vendeu que nem água), segundo que chegou aqui 1 semana antes do natal, 1 dia antes de quando iria viajar a Portugal para passar o Natal.

Passado o Natal, voltei pra casa, peguei a notinha do correio e fui em busca do meu pacote. Mas advinha, não estava no correio da cidade, foi parar em outra cidade, a uns kilômetros daqui, peguei trem, andei mto mto mto e não achei o lugar. A cidade era cheia de ladeiras, muita neve, muito frio. Na verdade o centro da cidade era a 30min à pé da estação de trem, então andei um tanto até chegar ao centro. Vi algumas placas indicando alguns nomes que eu pensei ser distritos industriais, ou bairros, ou qualquer coisa do tipo. Coloquei no Google maps pra saber onde ficavam esses lugares, apontava quase 4km a pé por uma estrada mão dupla, sem calçada, nem acostamento e muita neve pelos cantos, ou seja, um caminho perigoso pra se ir a pé. Mas não havia ônibus pra lá, então pensei que fosse o endereço errado e não fui. Também já estava ficando tarde, lá pelas 17h ia escurecendo. Sabia que estaria fechado quando chegasse lá, até andar tudo aquilo, mas queria chegar mesmo assim, só pra saber como chegava, pra ir no dia seguinte sem ficar procurando muito.

Tentei ir um pouco, mas não deu. Coloquei novamente no GPS e ele me deu outra localização, pesquisei na internet e deu outra localização, no Google maps outra localização. No total tinha por enquanto 3 localizações diferentes, em todas eu tinha que andar de 3,5km a 12km (partindo da Bahnhof - estação de trem mais próxima).

Desisti e voltei pra estação que trem, que por sinal, era só uma plataforma no meio do nada e quando faltavam 5m pra chegar, passou o meu trem, o trem de volta pra casa. Olhei na tabela de horários, o próximo trem passa só daqui a 2h. Dali em diante, só de 2h em 2h. Ô cidade pequena. detesto cidade pequena, não tem muitos horários de transporte público. Olhei para o relógio: 18h05. Liguei para o Rudi avisando que iria pegar o próximo trem só às 20h, por falta de opção.

Fiquei os primeiros 40min lá parada, no frio, no sereno. Até tinha uma cabine de metal, que ajudava pouco e era escura. A única coisa que iluminava ali dentro era a máquina de comprar bilhetes de trem, que supostamente deveria funcionar, mas não funcionava.

Eu estava congelando de frio, tinha levado um suco de caixinha na mochila, caso passasse muito tempo fora de casa e realmente estava com sede. O suco estava muito gelado (temperatura ambiente -10 graus). Parecia que eu tomava algo da geladeira. Quase não consegui beber, até doía descer algo tão gelado, mas bebi tudo, 500ml de suco com chá de frutas vermelhas, que havia comprado no supermercado dias antes e estava aguada para experimentar. Pelo menos era bom.

A fome começou a bater, mas não tinha nada pra comer. Na verdade o frio imperava, então nem me incomodava tanto a fome. Não que eu percebesse, mas fui ficando cada vez mais mau humorada. Mas mau humor não mata ninguém. Frio sim.

Como tinha tempo de sobra, pensei em ficar em algum café, restaurante, ou coisa que o valha. Mas quem disse que tinha algo perto? O restaurante mais próximo era a 17min cronometrados da estação e estava fechado. Só abria em determinados dias da semana e infelizmente aquele não era um dia que abria.

Andei mais um pouco e achei o Schlecker (mini mercado-drogaria) e achei q pudesse ficar todo o tempo do mundo lá. Mas para o meu engano as mulheres lá queriam fechar o quanto antes, começaram a apagar as luzes e fechar o caixa logo que eu entrei. Lembro de ter visto na placa que ele fechava às 20h, não eram nem 19h e já estavam recolhendo tudo. Acabei pegando 2 biscoitos doces quaisqueres e fui embora. Fiquei menos de 10min no aquecimento, mas pelo menos valeu a pena. Eu precisava urgentemente de algum lugar quente.

Andei mais um pouco, procurando outro lugar e achei uma Pizzaria e Kebab. Estava aberto, um tanto movimentado e metade da clientela levava pra casa a comida. Achei o lugar perfeito pra ficar. Bem quentinho, tem comida, tem bebida. Só não sentei na mesa porque não queria demorar. Ia pedir o lanche pra viagem, pra ficar preparada caso chegasse perto a hora de ir embora.

O lugar era barato, comida bem servida e ambiente familiar. Perfeito né? Porque eu não parei antes aqui?
Primeiro, entrei na fila, mas logo desisti e fui ao banheiro, que nas últimas 2h era a prioridade, depois de me aquecer, claro. Eu já estava tento arrepios e pensava seriamente em fazer xixi na neve, de tão apertada que estava. Já estava até delirando e tendo pensamentos e ideias no melhor estilo Survivor, de como se aliviar, se aquecer e não morrer de fome. Ainda bem que não precisei recorrer a nenhum destes pensamentos e achei um banheiro, nem me lembro da situação dele, mas enfim, tinha vaso sanitário, descarga, pia, agi de forma civilizada, isso é o que interessa.

Aliviada, entrei novamente na fila para pedir comida zum Mitnehmen (pra levar pra viagem). Esperei 40min na fila. Quando faltavam 20min pra passar o trem eu comecei a ficar agoniada, que não chegava a minha vez. Mas finalmente chegou. E quando chegou a vez, chegou uma mulher, que eu já tinha visto antes de ir ao banheiro. Ela havia feito o pedido, mas esperava no carro. Voltou pra cobrar do cara e ele tinha feito só metade das coisas, o resto tinha esquecido e começou a fazer bem na minha vez, depois de eu ja ter pedido kebab. Contei até 3 e fui embora correndo, com medo de perder o trem, porque se perdesse, só passaria dali mais 2h. Então era melhor correr mesmo, porque eu preferia ficar com fome a passar mais frio na rua.

Chegando na estação, ou melhor descrevendo, plataforma, não tinha ninguém lá. Esperei mais uns 10min e começaram a aparecer pessoas. Ao todo foram 4 pessoas a pegar o trem comigo. Tava bombando de gente. Tinha mais gente reunida lá do que tudo o que eu vi de pessoas na rua o tempo todo no frio.

Foi chegando o horário do trem e nada. Fiquei procurando alto-falantes, mas ali não tinha. Não tinha nada pra avisar sobre atraso de trem, não tinha ninguém pra informar nada, nem tinha letreiro essa estação. Mas depois de 25min de atraso, ele chegou. E eu não via a hora de sentar e me sentir quente. Mas não senti. Estava com frio, apesar da blusa de manga comprida, moleton, malha, malha de lã, casaco de lã, gorro, luvas, 2 calças. Não tirei uma peça sequer. Ainda sentia frio, não tanto, mas não sentia calor, como estava esperando. Quase dormir de cansaço. Dei umas piscadelas e quando estava chegando na estação de Villingen, não sabia o que sentir: se era alegria de estar em casa, ou desespero de ter que andar mais 20min na neve.

Parei 20segundos dentro da estação (na parte realmente quente, não na plataforma) e saí. E Villingen não estava assim tão fria como Deisslingen. Então foi só alegria saber que estava perto de casa.